top of page

Marie

  • Foto do escritor: Cristiane Bonezzi
    Cristiane Bonezzi
  • 19 de jan. de 2021
  • 2 min de leitura

ree
ree

Era uma árvore elevada, única, um espírito antigo, mais até que os dinossauros.


Os pássaros adoravam pousar em seus galhos esguios. Sobre suas raízes expostas, toda espécie de bichinhos se aninhava, pulava, encontrava alimento e abrigo.


Ela podia ver todo o horizonte do alto de sua copa, mas invejava a liberdade dos bichinhos que vinham e iam por toda parte. Para alcançá-los, começou a se curvar, chegou quase a tocar a terra. Curvou-se tanto que, numa noite de tempestade, tombou sobre a vegetação encharcada.


Ao contrário do que se poderia pensar, ela vibrou em êxtase. Havia alcançado os seres que antes observava à distância. O dia raiou, a grama secou, anoiteceu e choveu novamente. Foi então que aconteceu. Naquela manhã de neblina baixa sobre a relva, surgiu de sua casca partida pela queda um dos seres que tanto admirava. Mal conseguia caminhar, abria a boca e não emitia som algum. Os pelos eram ralos, pretos. Cabia na palma da mão. Era uma gatinha preta. Abriu seus grandes olhos cinza azulados e correu, um pouco atabalhoada no início, tropeçava em pequenos galhos de seu antigo corpo lenhoso. Encontrou uma pequena poça de água da chuva, bebeu com sua linguinha vermelha minúscula enquanto a água preenchia seu corpinho de pelo e osso.


Sentiu-se forte e alerta, seguiu pela mata, percebendo cheiros e cores antes inacessíveis. Explorou toda a floresta, correu, se embrenhando pela mata. Encontrou um cão, que a guiou por trilhas desconhecidas e se tornou seu companheiro de aventuras.


A gatinha exploradora saciou toda sua curiosidade a respeito da terra e dos seres que a habitavam. E sentiu saudades de quando o vento dançava entre suas folhas, dos pássaros pousando sobre seus galhos, das gotas de chuva pairando sobre sua copa para o sol secá-la pouco depois. O cão notou, ela passou a escalar as árvores, tentava alcançar a lua, quem sabe.


A noite caiu, a chuva desceu, e a gatinha se aninhou junto ao seu antigo tronco. Foi então que aconteceu. Na manhã seguinte, com o sol roçando sobre a grama úmida, ela já não tinha o corpo de uma gatinha preta. Era novamente uma planta, uma pequena semente de uma árvore igualzinha à que havia sido, delicada, vibrante, eterna.

 
 
 

Comentários


©2020 Criado com Wix.com

bottom of page